Polêmico como sempre, soltou o verbo e fez jus a fama de sua língua afiada.
Por que existem tão poucos autores de novela? Não há muitos autores, principalmente nas novelas das nove, por uma simples razão. É muito difícil. Não é fácil escrever 35 páginas por dia. Você não pode acordar e achar que não está inspirado e deixar para amanhã. Tem que escrever todo dia e bem. Senão o público percebe que o capítulo está pior. Tem que ter muita disciplina. Eu acho o Geraldinho Carneiro talentosíssimo, mas outro dia brinquei dizendo que é fácil ser um gênio da literatura como o Geraldo Carneiro, difícil é ser novelista das nove.
Cansa ser autor de novela das nove? Eu não entendo autores como o Gilberto Braga que reclamam e dizem que não aguentam mais escrever novela. Por que escrevem, então? Já estão cheios de dinheiro. Escrever novela é a melhor coisa da minha vida. É quando mais me divirto. Mas é realmente cansativo. Quando eu estava escrevendo Duas Caras, só saí de casa duas vezes em oito meses. Durante o período de uma novela eu fico escravizado, encarcerado na minha própria casa. Nem jantar fora eu jantava. O máximo que fazia era chamar uns amigos para jantar aqui em casa.
Nesse período sua vida social acaba. Você nem namora? Há oito anos que eu não durmo com ninguém. Digo, dormir de verdade. Tive uma pessoa por 18 anos e depois outra por sete, mas depois cansei. Gosto de dormir sozinho, atravessado numa cama de casal só para mim. Durante esse tempo todo tive poucos namoricos.
Você se considera o principal novelista da Globo? Não. Nós, que escrevemos as novelas das nove, nos equiparamos. Mas eu sou o mais agitador e por isso apareço mais. Eu não faço só novela. Ao contrário dos outros, que acham que autor não tem que aparecer, eu acho que tenho que vender o meu peixe e a única maneira de vendê-lo é o expondo na bancada. Neste momento eu sou o autor mais conhecido. Talvez o único que saia na rua e as pessoas reconheçam facilmente porque eu apareço muito. Meus colegas dizem que eu apareço demais.
Mas você é o único novelista da Rede Globo que só escreveu novela das nove. Isso é uma imposição contratual sua? Essa característica de ser o único autor que só fez novelas das nove eu vou manter a qualquer preço porque possivelmente isso vai entrar para a história da televisão brasileira. Existe um acordo informal entre mim e a Globo: eu digo para eles que só sei escrever novela das nove. Isso mata qualquer proposta diferente. Isso significa que se mandarem fazer novela de outro horário eu vou fazer mal feito. Eu não saberia fazer novela das sete, sinceramente. Para mim esse horário é o mais difícil de todos, porque pega um publico que varia muito, hoje é um amanhã é outro.
Das 12 novelas de maior audiência na tevê, cinco são suas. Existe algum segredo para uma novela alcançar o sucesso? A coisa mais importante de uma novela é a escalação. Os bastidores de uma novela são complicados. São dezenas de pessoas convivendo muitas horas por dia, durante vários meses e às vezes cria-se um ambiente de hostilidade entre alguns e aquilo se espalha, se transforma num saco de gatos. Um outro momento delicado é a escolha da trilha sonora. As novelas já tiveram grandes trilhas, mas agora ninguém sabe os temas das novelas. Qual é o tema de Insensato Coração? De Vale Tudo, de 1988, você sabe, que é a música do Cazuza. Trilha sonora atrai público e identifica a novela. Qualquer pessoa que escuta “Brasil mostra a tua cara” lembra de Vale Tudo. Eu acho que uma novela com pegada popular como Fina Estampa, tem que ter uma trilha muito popular. Dessa vez eu estou me intrometendo mais nisso. Se eu puder vou ousar e colocar o Zeca Pagodinho para cantar o tema. Ele fez um samba para Griselda que é uma coisa espetacular. É daquele que você ouve e sai cantando na mesma hora e durante seis meses você vai cantar e não vai enjoar. Por isso estou em campanha pelo Zeca Pagodinho. Mas eles insistem muito nas Marias Ritas, Anas Carolinas, Zélias Duncans, e são todas muito iguais. Essa repetição das trilhas afasta público. Nesse período sua vida social acaba. Você nem namora? Há oito anos que eu não durmo com ninguém. Digo, dormir de verdade. Tive uma pessoa por 18 anos e depois outra por sete, mas depois cansei. Gosto de dormir sozinho, atravessado numa cama de casal só para mim. Durante esse tempo todo tive poucos namoricos.
Você se considera o principal novelista da Globo? Não. Nós, que escrevemos as novelas das nove, nos equiparamos. Mas eu sou o mais agitador e por isso apareço mais. Eu não faço só novela. Ao contrário dos outros, que acham que autor não tem que aparecer, eu acho que tenho que vender o meu peixe e a única maneira de vendê-lo é o expondo na bancada. Neste momento eu sou o autor mais conhecido. Talvez o único que saia na rua e as pessoas reconheçam facilmente porque eu apareço muito. Meus colegas dizem que eu apareço demais.
Mas você é o único novelista da Rede Globo que só escreveu novela das nove. Isso é uma imposição contratual sua? Essa característica de ser o único autor que só fez novelas das nove eu vou manter a qualquer preço porque possivelmente isso vai entrar para a história da televisão brasileira. Existe um acordo informal entre mim e a Globo: eu digo para eles que só sei escrever novela das nove. Isso mata qualquer proposta diferente. Isso significa que se mandarem fazer novela de outro horário eu vou fazer mal feito. Eu não saberia fazer novela das sete, sinceramente. Para mim esse horário é o mais difícil de todos, porque pega um publico que varia muito, hoje é um amanhã é outro.
O que mais afasta o público das novelas? O povo não aguenta mais viado em novela. Chega! Tem muito. Tem novela que tem seis viados. As pessoas não aguentam mais isso. E geralmente os gays são todos iguais. São cópias dos héteros, querem casar, ter romance, engravidar e parir um filho nove meses depois. São gays chatos. Outra coisa que está cansando o público é o vilão desenfreado, que faz maldade sem nenhuma justificativa. Faz por fazer. Não é nem psicopata. O bom vilão tem que ser meio canastrão. Tem uma vila que eu adoro, que é a Nazareth Tedesco (personagem de Renata Sorrah em Senhora do Destino), que era engraçadíssima porque tudo que ela fazia dava errado. Eu me inspirei muito no Tom do desenho animado, que tenta há anos tenta matar o Jerry e sempre se dá mal.
Mas em Fina Estampa não vai ter um gay? Tem um só, que é o Crodoaldo Valério, que quem está fazendo é o Marcelo Serrado. Eu fiz questão que fosse um ator hétero porque eu acho que ele vai me surpreender. Antes da novela estrear, já tem gay entrando no meu portal e escrevendo que não viu e não gostou porque eu criei um homossexual estereotipado. Como eu falei antes, acho ridículo tratar o gay como um personagem padrão. Eles tem seus códigos, seu universo. São pessoas diferentes. A graça desse personagem é que ele tem uma paixão devastadora pela Teresa Cristina (Cristiane Torloni), que o trata miseravelmente mal. Alguns gays têm essa mania de venerar as mulheres que o maltratam. Eu queria mostrar esse tipo de gay. As pessoas vão odiá-lo porque vai fazer mil maldades em nome dela, porque ele adora aquela mulher que é um horror, ela é péssima.
Na sua novela não terá o tão esperado beijo gay? Eu estou começando a ficar irritado com essa coisa do beijo gay. Acho que tem uma torcida para que não aconteça, para que o assunto continue durando, mas as pessoas não aguentam esse assunto e se depender de mim ele acabou. A novidade é essa: não vai ter beijo gay em Fina Estampa, pode escrever. Não tem lugar no mundo em que os gays sejam mais ousados do que no Brasil. Aqui os gays não respeitam as fronteiras. Eles chegam no hétero e cantam mesmo, e se colar, colou. Porém, existe essa hipocrisia de você não poder mostrar um beijo gay na televisão. Por debaixo do pano vale tudo, mas publicamente é essa coisa hipócrita. A sociedade brasileira é assim e a tevê não quer correr o risco de perder o público.
A TV Globo foi criticada pelo movimento gay por ter arrefecido o romance entre Eduardo e Hugo em Insensato Coração, Milton Gonçalves foi cobrado pelo movimento negro por ter aceitado um papel de vilão. Como você encara a reação desses grupos? Tem um grupo gay da Bahia que diz que eu sou o inimigo número um dos homossexuais. Dizem que nas minhas novelas os homossexuais são estereotipados. Essas entidades são todas um saco, todas elas tem interesses econômicos, vivem à custa do governo ou daquelas empresas alemães que por má consciência financiam qualquer coisa. Claro que existem negros bandidos como existem brancos bandidos. A cor dos personagens não devia importar para essas entidades. Eles deviam combater as diferenças, mas para eles interessa grifar as diferenças. Se você bota hoje em dia uma bandida disfarçada de enfermeira, trinta sindicatos de enfermagem espalhados pelo Brasil te processam. Aí você tem que se preocupar com a audiência em Rondônia, em Tocantins... E não dá, porque você ainda tem uma novela para escrever.
Como considera que autores e emissora devem reagir a isso? Você não pode ser suicida. Essas pessoas às vezes conseguem por influência política crucificar você. Elas querem notoriedade, a indignação é real ou elas apenas querem tirar proveito? Então, você tem que saber a hora de parar com as polêmicas. Eu sei que tenho que parar quando as pessoas na rua começam a dar razão ao outro lado.
Isso é um tipo de censura? Dizem que não existe censura no Brasil, mas nós vivemos em constante ameaça por causa dessa coisa de classificação etária. Essa turma da “não censura” é toda jovem e devia ter a cabeça mais arejada, mas não têm. Eu tive que explodir um bar em 24 horas em Duas Caras, porque se não a novela teria que passar para as onze horas da noite. Às dez da noite o Wolf me ligou dizendo que no dia seguinte tinha que gravar o fim do bar. Eu fiquei desesperado até que eu tive a idéia do atentado. Inventei a personagem do sufocador, que é, na verdade, essa turma da “não censura”.
Em breve, traremos o resto da entrevista para vocês!
Créditos: Revista Veja.

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